silêncio


❝... silêncio ...❞


Bem-vindo ao meu lugarzinho, onde é tão especial para mim, aqui deposito todas as minhas fases, angústias, tanta coisa que às vezes, nem sei de fato explicar. Normalmente, ninguém fica confortável em ler essas coisas toscas e textos que trazem uma realidade que é distante de ser considerado algo poético. Assim estou sentado na minha sala, trocando algumas palavras com meu próprio reflexo na tv. Sabe, queria te falar que cansei de chorar no meu quarto, dormir na sala, me parece hoje algo bom. Tenho apreciado tomar um sorvete na loja que fica aqui ao lado, experimentando uma bala colorida que me recorda à infância. Minha vontade mesmo é de tomar uma xícara de café amargo, mas o psiquiatra me proibiu. 

(aqui caberia aquele smile com o rosto triste) 

Mas, vamos falar de algo interessante dessa vez, é uma coisinha que aparece e faz com que tudo ao meu redor se apague. Bem, alguns chamam de crise, até que adotei essa palavra também, mas tenho evitado em falar, pois junto está a desistência, vontade de deixar esse corpo magro e sumir por onde esse sol, que sempre queimou minha pele, há de tocar. Sabe quando você quer apenas chorar e o mais legal de tudo, não consegue (rsrs). Sabe quando a vontade de se ferir está balanceada com a noção de ser necessário manter a vida? 

Pois é, te falo honestamente que isso não é algo que um dia, todos podem sentir, alguns passam até despercebidos e acho que é exatamente assim que deveria ser. De fato, tenho conseguindo dormir, entre 2, 3, 4 e até 6 horas por dia, olha que avanço. Vamos dizer amém a medicina e seus recursos. 

Mas, percebo algo que novamente, me traz aos dias baixos (bonitinho isso), não tenho mais meus amigos de infância para falar, evito comentar sobre, me alimento nos horários (e a cada duas horas, tenho um lembrete no celular rsrs). A sensação volta, meio que na maioria das vezes, não sei o porquê e o melhor de tudo, não tenho a mínima ideia do que fazer. 

Minha primeira psicóloga, conversou muito, acho que até criei uma certa “amizade” com ela, tanto que após um dia desses, ela disse que eu estava na estaca zero novamente, melhor, que estava bem pior do que a triagem. Pense como eu estava? Tivemos uma leve discussão que durou aproximadamente duas horas, saímos irritados um com o outro e lhe disse que não iria mais. Eu queria ter explicado como tudo dói tanto, mas o problema é que realmente, não sei explicar ou quem sabe, simplesmente não queira. 

(aqui caberia o smlie com um olho piscando rsrs)

Bem, como esse é realmente minha última e única postagem, vou tentar detalhar para você o que está se passando. 

16:00 hs
É aqui que começa o meu primeiro surto do dia, crise, queda ou qualquer outro nome bonitinho que podemos chamar essa tal ansiedade. Gostaria de comentar algo antes, essa palavra parece ser algo inteligente, utilizada por pessoas cultas blá blá blá... para mim, que vou chamar de primeira crise, ela é como se fosse uma impaciência (logo eu que sou tão paciente kkk), acontece exatamente no tempo previsto que o psiquiatra me diagnosticou e orientou tomar um comprimido de Amitriptilina com 25mg. Mas vai um pouco além, pois essa droga leva uns 20 minutos para fazer efeito, talvez eu tenha associado esse horário como algo que sentia, e ai, tudo a minha volta começa a desmoronar, correr para o quarto e deixar o tempo passar, não funciona mais (ps: hoje em dia, não faz a mínima diferença onde estou, se na rua acontece, vou parar num lugar distante, abaixo minha cabeça, deixo a respiração fluir e o tempo passar, quando estou dirigindo, paro em um posto, acostamento, qualquer lugar que eu não ganhe uma multa, aguardo apenas o tempo passar. Algo que nunca me esqueço, era quando estava em plena aula e isso simplesmente aprecia, juro que não estava pensando em nada além do professor e das teorias sobre as cenas, mas acontecia, pedia para ir no banheiro e ficava escondido numa sala vazia, onde por ajuda divina, alguém esqueceu de trancar, fiz dali meu refúgio matinal (isso sim é bonitinho). A minha nova psicóloga, fala para eu perceber os sinais da ansiedade, que numere cada um, explicando como aconteceu e o que exatamente se passava na minha cabeça. A resposta é ... z e r o. Verdade, não tenho a mínima ideia. Apenas observo passar, tenho um aplicativo, isso mesmo, um aplicativo chamado “querida ansiedade” (isso é muito lindo). Faço os acompanhamentos, vídeos que me orientam na respiração, deixando minha atenção voltada às palavras dos outros, como superar, seguir, crescer... e toda palavra do beliscão chamado carinhosamente por motivação. Mas, na verdade, era um mal súbito, meu coração palpitava, sentia calafrios e a cada minuto que passava, uma eternidade. Ficava assim até que alguns dos meus colegas de sala, ligar perguntando onde eu estava, apenas duas pessoas sabiam, só com elas, me senti confortável em falar o que de fato estava acontecendo. Pra que não ache que me perdi, essa mesma sensação que sinto, acontece às 16 horas. E não tenho o mínimo controle sobre isso. 

19:00 hs
Aqui é onde inicia o minha segunda crise , novamente tomo mais uma dose da minha queria Amitriptilina. Normalmente, nessa hora eu estava com alguma visita, era vergonhoso colocar as cabeças entre as pernas, sentir as costas suarem ao ponto de molhar a camisa, calafrios nos pés, cotovelos, tremores e suor excessivo nas mãos, cabeça pesada e trêmula, nuca dormente e uma vontade imensa de correr para qualquer lugar. Mas, eu apenas pedia desculpas a visita, tomava o comprimido e aguardava passar, apenas esperava o efeito chegar.

Frequentemente, durante o dia, minha única vontade, fica no deitar naquele chão de madeira e fingir dormir, acho que se pudesse, faria esses 15 minutos se transformarem em horas, dias... enquanto observava o sol nascer, se pôr e caso tenha sorte, ver a lua pela janela do meu quarto, com aquela pequena estrela que parece ser marte, mas não tenho a mínima ideia de quem seja. Foi ai que percebi o quanto estar em locais muito abertos e até muito fechado, me causa uma sensação de surto, eu ficava implorando nos momentos que precisava sair (olha, tenho vida social, preciso de dinheiro para esses remédios rsrs) o quanto mais rápido iria retornar. 

22:00 hs
Aqui começa meu sono profundo, põe profundo nisso. Zolpidem é o nome dessa mágica, ou “remédio com Z”, como costumo falar. Um detalhe, segundo a bula, ele não é aconselhável em caso de depressão, mas quem sou eu para questionar um psiquiatra? E para que diabos fui ler a bula?? Ao ingerir, ele traz uma sensação de descontrole, o peito até dói um pouco, o coração tem uns picos de aceleração, garganta meio seca, mãos voltam a ficar frias e suadas. Constantemente, durante na verdade, 10 a 20 minutos, algo sufocava minha mente, me fazendo delirar. Por diversas vezes as pessoas tentaram me acordar, mas eu não tenho o mínimo controle quando isso acontece, o cérebro que parecia trabalhar em turnos de 24 horas, simplesmente era desligado, um delírio bonito e colorido, com pensamentos que, mesmo que não me recordo dos detalhes. Apenas as pessoas que me acompanharam nesses momentos, sabem o quanto de bobagem falei, até gravei e ri à beça com tudo isso. Mas, reconheço a necessidade, até fiz graça com a balconista da farmácia, dizendo que aquela pequena caixinha me servia como 20 dias de duas hora do melhor sono, sem sonhos ou pesadelos, sem sentir ou lembrar de nada que está acontecendo. Tem um velhinho chamado Johnny Cash, na música Hurt, queria colocar um trecho que me faz sentir algo que também (novidade...) não sei explicar: 

“O que me tornei 
Minha mais doce amiga? 
Todos que eu conheço vão embora 
No final 

E você poderia ter tudo isso 
Meu império de sujeira 
Eu te desapontarei 
Eu te machucarei 

Se eu pudesse começar de novo 
A milhões de milhas daqui 
Eu me salvaria 
Eu acharia um caminho” 

Simplesmente, ouvi repetidamente essa música por um período, me rendeu alguns textos que nunca vou publicar, onde a verdade, está muito além do que de fato, deixaria alguém nesse mundo estranho ler. E a melhor frase é que “todos que eu conheço vão embora no final”, não existe exceção alguma nessa frase, como eu também vou embora, quando o Zolpidem me apaga após as 22hs, tirando todo meu possível controle, aquele olhar vazio se apagava e tudo que poderia chamar de consciência, simplesmente desparece de mim. Pena que isso dura por apenas duas míseras horas (kkkkk, se surpreendeu né?) 

00:00 h
Hora do Clonazepan, chamado carinhosamente por Rivotril. Aqui foi onde descobri que estava muito sozinho, olhava vagamente para os lados após o celular despertar, com as luzes sempre acesas, buscava junto a meio copo d’água a cartela dos remédios, se eu tivesse sorte, talvez o que ainda restava do Zolpidem, mantinha meu sono, mas normalmente, essa água me desperta e faz com que o sono não venha mais facilmente, esse é de fato o único antidepressivo que tomo, ele é o responsável pela organização mental, não tenho ansiedade nesse momento, o vazio que sempre comentava, existia exatamente aqui, quando a consciência do vácuo interior, está sendo colocado para um canto e preenchido com nada além de mim mesmo. Apendi a conviver com esse momento, que era necessário passar a noite em claro e ficar satisfeito com as duas horas anteriores. Por mais que o tempo passe, o convívio com esse momento está sendo cada vez mais normal, faço o que posso para me manter quietinho, olhando para o nada, tentando manter a cabeça vazia e o coração tranquilo. 

Passei por momentos que meu corpo, se apaga fisicamente, como sou mentalmente fraco, emocionalmente abalado e que qualquer distância, me abala muito além do que imaginaria. Admito que desisti, por mais que tenha tido apoio de todos, eu desisti e não vou fazer mais nada, desisti porque cai e não consigo mais levantar, olhar para mim mesmo e compreender que toda dor que um dia causei, voltou de uma só vez para mim. Me afastei dos amigos, familiares, atividades, hobbys e qualquer coisa que seja possível dispensar ou diminuir em minha vida. A dor que sinto por dentro, venceu tudo o que construí por anos, hoje sei o real significado que a “solidão” é, junto ao enumerado de palavras que tanto repeti, pedindo um socorro, para pessoas que não tinham a mínima ideia do que eu de fato estava passando. 

Parabéns Marcos, parabéns. 

Todo fim precisa ter um início, todos tem suas dores, carregam seus medos e deixam, apenas deixam o dia passar por mais uma vez. Seria hipócrita se dissesse que não aprendi nada com tudo isso, mas garanto que dessa vez, eu mesmo fui longe demais. Quando alguém me pergunta se estou bem, apenas respondo que “sim, melhorando” sem comentário algum após essas palavras. Minha vontade mesmo é de chorar, de soluçar em meio ao abraço amigo, num aperto de mão, em palavras soltas de um filme qualquer, recordando cada batalha que tive e perdi, da pior maneira possível. 

Não consigo reconhecer a felicidade, pois o medo da queda, tem sido muito mais profunda que uma possível melhoria, e me vejo com alguém que em um breve momento, não vai mais estar aqui para contar. Vejo hoje, que perto de quem me sinto hoje, essa tal depressão e ansiedade juntas, não são nada além do que sempre senti e nunca pensei em me diagnosticar. 

Por quantas vezes falei que deveria ficar só, quando de fato, era um pedido de ajuda? Mas não é sempre que as pessoas estão dispostas, que eu mesmo estou disposto a segurar em um par de mãos e se deixar levar. 

Sabe quando se quer chorar e não mais consegue? Quando sua única vontade é provocar uma dor insuportável a mim mesmo, sendo que não pode acabar com tudo de uma só vez por causa de tantas outras pessoas ao seu redor? Sabe o que é tentar se alimentar e não conseguir, bater no liquidificador o arroz, feijão, caldo de carne e até a salada, para que esse liquido gosmento desça pela garganta e te faça ter forças para acordar no dia de amanhã? Será que alguém nesse mundo entende isso? 

07:30 hs
Momento da Sertralina, primeiro controlado do dia, ou último do ciclo. É quando “acordo” e não enxergo no sentido de ter saído de onde eu estava deitado, que devia ficar ali por mais algum tempo, que ter contato com alguém, só vai te fazer ficar triste por mais alguns dias. Mas, a sertralina te dá ânimo, uma pequena faísca de euforia te faz pôs os pés no chão, abrir mais os olhos, desligar o alarme do celular e tentar, ficar em baixo do chuveiro frio por mais cinco minutos. 

Mas, até o meio da manhã, você percebe que novamente, as perguntas não vão ter uma resposta, que ao se olhar no espelho, com os cabelos assanhados, olhar vazio e brilhante, que a depressão está de volta, e por mais que tenha lutado no dia anterior e você conseguiu rebater, ela está de volta em sua alma, e por mais uma vez, você não tem a mínima ideia do que fazer. Mas, estou acostumado, não estou pedindo mais ajuda, nem sou digno de pena, apenas sigo o cronograma diário e espero, que por mais um dia, tudo aconteça novamente, assim aceito, de maneira menos dolorida quem sou e que qualquer mudança, um dia vai acontecer. 

Me sinto doente, isso é um fato, minha mente parece ser um monstro que está o tempo todo tentando me derrubar, sei que tem muitas almas no mundo passando também por momentos assim, ter consciência disso não me ajuda, apenas compreendo o mundo que tenho na cabeça, é o pior inimigo que um dia pude ter. 

Sobre todo o resto, não tenho mais nada para falar. 

Obrigado pela atenção, agradeço de coração pelo silêncio que me fez fazer. 



- marcos guimarães -




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