16 e 19 horas


❝...quem diria que um dia, eu ia me deparar com direções cruzadas, junto aos cálculos que nunca vou compreender. Algumas das maiores aflições, caminham ao meu lado, indolor, ao ponto de afogar minhas palavras sem pudor algum. Fixo minha cabeça sempre inclinada para o lado esquerdo, desenterrando tudo que os destroços desse chão, que meus pés ainda pisam e mantêm a minha sanidade entre o dia calmo e a noite em extrema confusão.
Foi olhando para o universo de estrelas que desenhei uma rota de fuga, no sentido oposto ao que um dia tracei, tudo que está saindo do controle, mora em mim, mesmo que dolorosamente pertencia, e agora não tenho mais. Tentei balançar meus braços, pedi socorro, por várias vezes, numa tentativa frustrada de quebrar as correntes que me puxam para baixo e não consigo mais lutar. Foi assim que tudo aconteceu, me sinto cansado, eu tentei, mas falhei além da minha própria expectativa, alma livre, alma perturbada.
Engoli a seco cada momento teu, mantenho hoje minha cabeça baixa, tenho a consciência do fracasso aumentado a cada hora contada nesses instrumentos precisos, o pouco que alcancei, causou uma dor visceral, está insuportável. Em passos lentos, com as esperanças voltadas ao dia que vêm depois do amanhã, enquanto o asfalto está quente e meus pés descalços, sinto o que sempre busquei e não tive coragem de assumir. Me sinto cruel, a mim mesmo, nos braços riscados, nas palavras que entorpecem a chamada paz. 
Perguntei-me, diversas vezes, porque tanto, ou tanta dor, pelos desprezos e palavras mordazes, que só servem para abrir as feridas que ainda tentam se curar. Agora, mesmo conhecendo das maiores grandezas desse mundo, do amor ao ódio, da mente suja e os sonhos que permanecem vazios, aos olhos que me veem, mas permanece desconhecido ao me enxergar, dedico a ingenuidade que um dia tive, prometendo injúrias a todas as estrelas desse céu, minha dor não é maior que a sua, mas é a minha que sinto e faz doer. 
Ando aqui, enquanto esse coração ainda consegue pulsar, suplico orações por toda minha vida, que um dia caminhemos, de mãos dadas perante as lacunas que minha mente traça, mesmo desalinhada entre as 16 e 19 horas, nas estradas congestionadas, nunca mais citadas em nossos encontros das almas perdidas, que perfuram a coerente aceitação, dos meus pés tão cansados, de minha mente esgotada do lembrar, sem perceber. Estive onde nenhum outro esteve, foi apenas uma frustração que me deixou assim. Deixei de ser reconhecido e tenho buscados nos sorrisos falsos, a virtude que os dias na escuridão me fazem ter, controlando o tempo, dilacerando minhas mãos, riscando as paredes, colorindo com o vermelho do meu ser, o lilás da sua segunda cor. Traçando linhas desconexas, ao andarilho solitário, que jamais deve parar, no tempo que um dia perdeu e não vai mais voltar.
Obrigado gracioso tempo, pelo que me deu e não tive cuidado.
Fez-me deslizar num chão tão rochoso, criando um poço de lagrimas ao meu redor, consumindo cada ferimento meu, confundido com a dor que existe e não devo mais mostrar.
Os lençóis foram trocados pelos que você um dia você ousou deitar, lembranças de um novembro doce, com o amargo do aconchego meu, onde prometi parar com tudo e aceitei minhas próprias injúrias, das promessas que um dia fiz, tornaram-se tão inalcançáveis, que desaguam na minha boca e se cruzam com o signo teu, tão fortemente sonhador, de pés no chão, e lhe permite ser, exatamente quem é, longe de tudo, bem distante de mim.
É janeiro, amor, o dia que um dia o prazer poderia ser real, onde seríamos os olhos do mundo, sujeito a tudo que um dia, jorramos impurezas, abrindo uma nova faísca no fogo que não cessa de queimar.
Queria deixar meus passeios noturnos sem a tua presença inexistente, nesse universo que não mais me agrada. Estou te pedindo calma, minha solene despedida, ainda está por vim, mas queria deixar inacabados cada verso teu, calculados, como tudo sempre é tão bom, que com ninguém mais será, ninguém.
Tempo, me desculpa por não poder mais esperar, mas o tempo meu não existe mais, não há sentido no que faço, por mais que ele persista no erro, não existe mais aqui. Mas se voltasse atrás, apenas para ti, como seria? Melhor acreditar no adeus silencioso a mim mesmo, onde degustei cada momento teu, onde me pediu para sentir o que eu não ia mais viver. Assim, vou sozinho, enxergar as luzes que nem de fato quero ver, sendo alguém redundante, perdido nos segundos de uma noite qualquer, vendo todos do mundo que persistem a caminhar, até onde o encontro seja desigual, sem lágrimas para chorar, nem soluços para confortar tudo o que passou e não se cansa de voltar, ao amor teu, ao amor meu, desejo um longo e exuberante adeus, não importa para onde eu vá, nem os laços teus, tão meus, será o tempo, que pode decidir o fim, que foi, que deu alforria ao sentimento meu, teu...❞




- marcosask -






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