❝...o que acontece quando sonhamos com o futuro? 
Me recordo de lembrar que faziam exatamente mil e noventa e cinco dias que tudo aconteceu, foi quando houve cor, som, sabe... que gostei daquele lugar, daquela barulhenta calma, do silêncio, do cheiro de peixes, das corres berrantes e de tudo mais que tirava minha atenção. Essa minha mania de não esquecer certas coisas, me mata, não é por mal e nem para encontrar motivos para escrever, apenas faço o que acho certo, sem me importar exatamente como estou me sentindo.
E aqui estou eu, sonhando novamente, sem te pedir a devida autorização, te eternizo em palavras, tão má escritas, com tantos erros, e que não chegam nem próximo ao que de fato você é e merece.
Me recordo que era cedo, a manhã estava calma, ouvia poucos pássaros e às vezes passava um automóvel quebrando o silêncio. Eu estava uns dez anos mais velho, sentia dor nas costas.
Sai da cama com os pés descalços, a casa estava vazia e sem móveis, parecia estar arriscando chover. Fiz um café bem quente, sentei no sofá e observei meu reflexo na tv. Não consegui identificar o lugar, mas lá fora dava para ver um pouco de natureza, algumas árvores e um pedaço de céu.
A dor nas minhas costas ainda se mantinham, provei o café, e foi quando me dei conta que não estava sentindo cheiro ou sabor, eu nem sei explicar muito bem, mas a lembrança que tenho, é que não conseguia sentir frio, o vento que balançava a cortina, não sentia nada, estava apenas sobrevivendo. Mas eu me lembrava do seu cheiro, do gosto frio daquela madrugada entre o sal do mar e as suas lágrimas, da força que tentava nos separar, e da insistência que fazíamos para ficar ali.
Decidi ligar a tv, e como de costume, só me interessava por canais musicais, estava tocando exatamente essa música:

Deixamos de sentir o que a gente sentia
Que trazia cor ao nosso dia a dia
Deixamos de dizer o que a gente dizia
Deixamos de levar em conta a alegria
Deixamos escapar por entre nossos dedos
A chance de manter unidas as nossas vidas

Amanhã ou depois, tanto faz se depois
For nunca mais... nunca mais

- nenhum de nós: amanhã ou depois -

Acordei às 3:35 e não consigo voltar a dormir, essa música está martelando minha cabeça, sinto arrepios em lembrar. Quando acabou a música, tudo voltou a ter silêncio, ouvi novamente os pássaros e os carros passando. A tv voltou a ficar escura e fiquei confuso no que estava acontecendo. Tentei então gravar o máximo de detalhes, mas as paredes eram brancas e não havia quadros, a maioria das portas estavam fechadas, voltei para o meu quarto, vi muito lençóis no chão, todos brancos, não tinha nada do que eu tenho atualmente, nem havia janela, onde costumo ver a lua e ouvir as brigas dos vizinhos. Aquele lugar não era o meu, aquela bagunça não era a minha, a única similaridade era estar só, mesmo sendo em outro lugar, e eu estava preso com você na lembrança. Me deitei no chão, as costas ainda doíam muito, fiquei observando o quanto as paredes estavam brancas, a porta fechada, estava tudo iluminado mesmo ser ter luz.
Fechei então os meus olhos, como faço normalmente quando não consigo dormir e tentei me apagar, foi assim que acordei e percebi o quanto tudo aquilo é real, que é perigoso guardar e deixar "eterno" tudo que escrevo, acho que passo tanto tempo revivendo tantos detalhes do passados, que me esqueço o quando tudo é diferente hoje, não é que seja ruim, mas tudo que tenho hoje, daqui há algum tempo, parece que vai ficar vazio.
Sabe a lembrança de quando o impossível era nosso maior motivo para seguir em frente? 
Hoje tenho um complexo de vazio mesmo estando rodeado de pessoas, e muito boas amigas por sinas, mas carrego uma alma fria e desbotada, tenho contado dia após dia, o quanto se tornar invisível é difícil.
Agora já são 4:17, o sono não vem, o celular com 13% de bateria, e o frio em meus pés, uma preguiça de levantar para pegar o lençol. Acho que estou começando a entender porque tudo teve que ser assim, como fiquei tanto tempo me sentindo bem, tão vivo na lembrança da possibilidade de um dia esse hiato ter fim.
Estou com medo de algum dia, escrever mais um capítulo da minha vida, e que nele, você não vai estar.

Será que falar tanto das entrelinhas de saudade, intensas, que sempre ecoam de você, está prejudicando a nós dois? 
Será que nosso fim é recomeçar seguindo nosso oposto? 
Será que estamos vivendo apenas dos pedaços que nosso fim deixou? 
Será que tudo que falo sobre nós só existe em mim?

Foram lindos todos os nosso detalhes, toda a nossa singularidade, tudo foi belo e trágico, todos os acidentes se tornaram lindas palavras e contos de dor e sentimentos fortes. E eu, sempre estive aqui, carregando durante todo esse tempo, a vontade de estar com você de algum jeito, como se não fosse apenas uma necessidade do meu corpo ter o seu toque, a sua respiração perto da minha, dos seus devaneios em pensar que tudo deve ter um fim precoce, mesmo te provando dia após dia o quanto tudo que existe em mim é eterno.
Sei que agora, só tenho um corpo vazio e uma alma fria, pesada em pecados, que anda perambulando por ai, buscando lembranças para se sentir viva.
Mas hoje, estou com medo, já são 6:19 e o dia já acordou, estou ouvindo pássaros e alguns carros passando, reconheço essa bagunça, minhas paredes, meu chão, reconheço minhas mãos, o celular carregando com 67%. Meu medo não está na realidade, nem nas inúmeras possibilidades de meu dia ser ruim, mas estou com medo, de em algum momento, decidir deixar que o vazio me tome o corpo, que apague todo o resto de tudo que conheço e me consuma ao ponto de acordar um dia e não ter nada mais para escrever além de versos meus sem você...❞


- marcosask -


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