❝...entre os 18 ou 34 anos, nem me lembro bem, acho que acreditava em tudo nessa época. Desde promessas mal contadas, mentiras, destinos, sorte, azar e estrelas cadentes. Com o passar do tempo, uma pessoa mudou tudo isso, tudo que eu havia construído e não queria que desmoronasse, ruiu, e foi aos poucos mudando. Foram transformando os meus planos, dividindo os princípios e as verdades que me mantinham ali, mudou a minha visão do mundo. Eu não sabia mais o que era desejo ou vontade. Acreditava que podia fazer o que quisesse, mas nada acontece assim, nada é por acaso. Tudo tem uma razão, um motivo incompreendido, mas que acontece exatamente quando precisa acontecer.
Ela era uma pessoa comum como todas as outras são, mas isso era somente o início. Não era importante, nem fazia sentir nada, não existia palavras ou noites em claro, era somente eu no meu mundo e ela no dela. Tudo mudou, claro, e foi como devia acontecer.
Passava por ela as vezes, trocava olhares, mas nada existia além da educação. Eram todos os dias iguais, acho que até já tinha me acostumado com a presença daquela garota, com o seu jeito de ser calada. Imaginei um dia que era assim que deveria começar uma amizade, mas pena que não foi assim que terminou. Era pra ser da seguinte maneira: no abraço, não devia existir malícia, as conversas não deviam ter vergonhas, os olhos não deveriam ter importância, tudo não deveria ter importância.
Certo dia, ela me perguntou algo que eu nunca imaginaria que me perguntasse. Me assustei um pouco, mas não com a pergunta, sim como perguntou. Ela sempre costumava falar pouco, com um pequeno sorriso nos lábios, nunca olhava nos olhos, assim era mais fácil esconder o que não deve ser visível ao mundo. Ela me perguntou se eu já tinha amado alguém, o estranho foi que essa pergunta já tinha sido respondida antes em meio as poucas conversas, ela conhecia algo meu, sabia o que pensava para mecher comigo e também sabia que já havia amado como todos nós amamos. Mas mesmo assim perguntou, eu respondi que sim, ela parou durante um tempo, achei que tinha desistido de continuar o papo, mas voltou conversando sobre outras coisas, meio que fora do contexto. Foram os cinco minutos mais longos da minha vida. Queria que aquela imagem ficasse gravada para sempre em mim, quando te vi desconcertada, olhando para baixo, tentei buscar imperfeições para quebrar o que acabara de sentir e não entendia do que se tratava. Como nunca notei os seus passos uniformes, as dobras do seu queixo, o desvio no olhar quando sorri, o seu batom escuro, a mistura de caramelo e preto que os seus olhos têm e a maneira única de fechar os olhos para o mundo e abrir a alma aos céus. Como eu nunca notei a sua beleza, é linda, absolutamente linda. Queria ficar bem ali, olhando para sempre como a luz te iluminava e como esse silêncio estava me deixando vermelho de vergonha. Foi difícil te ver ir embora, mas foi assim. Cheguei em casa sem noção do que pensar no que tinha mudado, o que estava acontecendo e não compreendia, estava imerso em pensamentos e lembranças de tudo sobre você. 
Liguei para o meu melhor amigo, ele atendeu com uma voz rouca, fiquei envergonhado, conversei sobre outras coisas, as vezes caia num silêncio, era constrangedor naquela altura da minha vida, voltar aos quinze anos. Ele não disse nada, mas sabia exatamente o motivo da minha ligação, quase conseguia ouvir seus pensamentos junto a respiração. Depois de algum tempo, consegui perguntar: o que é amar? Foi uma pergunta meio que vazia, tentava demostrar um momento de desânimo, a voz saiu fraca. Houve três segundos de silêncio cruel que até hoje parece que ainda há. Ele me disse que se tratava de um ódio invertido, que o chão se abre e enxergamos um abismo que sempre existiu e nunca nos damos conta. Me pediu para não começar a falar coisas, e disse: "Quem é ela?", senti arrependimento de ter perguntado. Ele soltou um suspiro, me conhece bastante, sabe que agora virá dias ruins, palavras melancólicas, atitudes descontroladas e sem noção. Dei um suspiro e me veio o silêncio. Falei que depois conversava, que precisava dormir. Enfim, ele desligou, meus joelhos começaram a doer, eu não entendia o porque das lágrima nos meus olhos, me deitei e percebi que não era só o travesseiro que sentia necessidade de um abraço naquela noite. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, que ontem tinha sido minha última noite de sono completa, queria te ter por perto, mas era não mais que impossível, era uma intensidade que não desejo a ninguém ter. Tinha vontade de sair por mais uma noite insana nas ruas, procurando o que não está mais lá. Fechei os olhos, deixei o tempo passar e adormeci em meio a tristeza. Os dias se passaram, noites em claro vieram exatamente como hoje são. Mas nada mudou entre nós, era necessário manter distância, mas nessa mesma noite, descobri o quanto a amava, lembrei que ao ir embora, por mais de uma vez, me trocava o último olhar e seguia. Eu sempre pedia para acompanha-lá, mas era sempre o não e logo após o seu olhar de despedida. Meu coração apertava, devia existir lágrimas para fazer o brilho nos meus olhos aumentarem. Na manhã seguinte soube que estava doente, que estava passando por um momento ruim, passou alguns dias, uma eternidade. No próximo encontro, a verdade veio a tona, entendi os nãos, encontrei quem no mundo tinha sorte. Pedi aos céus desculpa, que tinha errado e não iria conseguir parar.
O tempo passou, cantei uma música baixinho em seus ouvidos, senti o gosto da sua boca, queria dormir ao seu lado, para compartilhar o meu sonho e quem sabe, pela manhã, preparar um café. Foi o que devia acontecer, mais a realidade não é bem assim, eu senti muita dor, morri várias vezes, apagava em sonos profundos de meia hora, gritei em silêncio para que algo chegasse até ela. 
Precisei morrer em minha dor, fechei os olhos e não vou mais abrir, faleci naquela noite, como em todas as noites que passam das 3:43 e o sono não vêm. Faço uma oração aos céus, que me tire ou a traga para mim, mas não sou tão bom para ser servido, nasci para servir e deixar ir. Queria, mas era só um querer solitário e um poder desnecessário. 
Sei que era feliz em meus braços, mas não era essa felicidade que procurava, é ainda difícil aceitar a ideia, mas é assim que tem que ser. Talvez o amor ainda esteja vivo, talvez nada foi em vão, ou talvez, tudo isso só aconteceu para por mais uma vez, eu lembrar que inventar milhões de histórias, conhecer vários mundos, nada vai se comparar com o seu último olhar, com o último adeus...❞


- marcosask -



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