❝...são 3:39AM, vento faz barulho na janela de vidro, imagino quantas gotas caem e são levadas pelo vento, sem rumo e direção até encontrar o primeiro obstáculo e se despedaçar. Mais cedo observava pessoas correndo pelas ruas, procuravam abrigo em suas casas, tentavam estar abrigadas quando a tempestade chegar. Eu estava ali, em meio a toda essa multidão, talvez fosse o único sem rumo, apenas seguia o fluxo, estava acompanhado da minha própria solidão. Costumava ser alguém que fingia bem, o cara que sempre estava com o sorriso estampado no rosto, sem dificuldades, não contava mentiras, mas sabia muito bem como enganar o que se passa, quem me olha, nem imagina a força que faço para manter os olhos fixos, atenção no mundo mas o espírito nas estrelas que posso mesmo sem autorização tocar. Como de costume, sempre olhei para o chão, tentava passar um ar de pouca preocupação. Mas como disfarçar quando se esta abatido por muito tempo, que o coração está dilacerado, que a tristeza dessa vez não é algo banal. Guardar tudo isso, esta me fazendo estourar com pequenas coisas, que antes eram tão simples, mas hoje existe um deserto para atravessar.
Todos foram para as suas casas, todos agasalhados e muito bem acompanhados, mas eu ainda estava ali, andava pela rua principal da grande e vazia cidade, não queria mais correr, o pensamento inicial foi trocado por uma visita a praia que não aconteceu. Quis apenas que a tempestade fria me acompanhasse, que viesse branda, mas que congelasse o que ainda bate. Sei que não há o que temer, os dias que virão não serão iguais, todo dia é um novo dia, mas para mim, o novo nada mais é que a nova perda. O nada que existia no todo foi tomado em fração de segundos, parecia que estava tudo errado, tinha vindo a tona toda a realidade que meus olhos não queriam enxergar, o desespero foi tão grande que preferi ir mais devagar, meus passos estavam rápidos, tudo estava escorregadio e eu não precisava ir tão longe, o que atormentava não era nada ou ninguém além de mim mesmo.
O céu começou com trovões cada vez mais forte, eu não dava mais importância, era tarde demais, as nuvens se contorciam para mostrar que eu tinha feito bobagem, cada flash dos relâmpagos me cegavam por segundos que demoravam uma eternidade para passar, naquela extrema adrenalina, finalmente uma gota toca meu rosto, eu olhava para o céu, suplicava por um perdão, por um motivo que dissesse nos meus interruptos erros, que existisse algo não só imaturo, mas sem tanta maldade. 
No céu não caia nenhuma gota, tudo acontecia sem desaguar, parecia um imenso rabisco, feito detalhadamente para esse momento, a única gota que senti, foi fruto do descuido dos meus olhos que não suportavam mais segurar essa tristeza.
Continuei a minha longa caminhada, em passos lentos olhava para o céu suplicando o meu pedido, não entendia porque diante de toda aquela congelante ventania, existia uma calmaria, sei que não era em mim, mas lembrei que alguém ficou mais calmo, alguém se sentiu mais seguro hoje. Vi os passos firmes, os olhos nos olhos, havia chão onde esse alguém pisava.
O chão só não existia na minha presença, a chuva estava somente me acompanhando, as nuvens descarregaram de uma só vez tudo que estava calado há um bom tempo, talvez. O temporal de verdade não era só o da cidade, mas dentro desse ser aqui ainda olha para cima pedindo o impossível, como se o socorro pudesse vir e resolver parcialmente com uma seringa de adrenalina. Queria chuva, muita chuva quando na minha caminhada, as lágrimas deixassem de serem vistas por todos, mas o céu decidiu não chorar agora.
Agora, depois que a tempestade finalmente chegou, onde não há mais o que fazer para reverter a situação, tenho a certeza que das nuvens que se contorciam, aquela que era a mais pesada, que estava tão carregada ao ponto de desaguar primeiro que as outras, sempre fui eu...❞

- marcosask -






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