❝...acho que foi meu último suspiro, não consigo entende onde eu errei, onde é que a ferida precisa estar tão exposta, para que?
Acho que não são só as minhas costas que doem, não tenho mais tanta certeza da origem da dor, mas está em todo o meu resto de corpo. Fiquei por alguns momentos anestesiado, pois é, foi isso mesmo. Há muito tempo que não ando mais tão sóbrio, com tanta coerência em meus restos. Tem um tempo que tento achar a serenidade, a calma, há quanto tempo não toco mais nesse assunto.
Estúpido, isso sim, a cama só anda desarrumada, proibi que qualquer pessoa arrumasse nem se quer um papel no chão desse único espaço que posso ter certeza que ainda é meu. Essa bagunça, esse mal cheiro é meu, entende, é o que torna a minha existência sem sentido em alguma coisa, não existe mais nenhum motivo, apenas esperar a casa ficar vazia, o corredor ficar dentro do silêncio junto com todos os livro que não quero mais ler. Todo barulho é desagradável. Esse calor, essa cidade, esse sol é um pouco do inferno que está dentro de mim. Estou aqui, com as roupas rasgadas, barba sempre mal feita, com fome e sede esperando o que nunca vai acontecer. Essa realidade está mais que costurada em minha pele, como esses pontos na minha boca que só me servem para aumentar a minha dor. Queria abrir a janela, queria poder observar as pessoas na rua, cada um em sua realidade, queria poder observar cada pedaço desse céu, cada tracinho azul e infinito. Queria poder desviar o olhar. Tudo isso não é nada mais que um protocolo, somente uma prova do quanto sirvo para nada. Não há mais motivos, só consigo ver uma pequena linha que me separa de tudo isso, sou um desconhecido com muita fome entre um minusculo céu e esse inferno que me atrai. 
Trocamos olhares. Mas estava tudo muito escuro, tentei ver um pouco, senti que incomodava, mas de alguma forma, eu estava feliz, mesmo não sendo nada, mas estava feliz em apenas participar, era muito para mim, era tanto, como eu queria tanto. 
Sinto que mais alguém sabia, e isso me incomoda tanto, de forma que não consigo um raciocínio lógico. Sei que sabe o quanto não arrumo a cama, que não lembro qual foi a ultima noite que dormi bem. Sei que sabe da minha forma errada e tão transgressora de encarar isso que chamo de meu mundo. Eu responderia qualquer pergunta sem o mínimo pudor. Me dá um ódio imaginar que sabe sobre as minhas palavras, sabe que só escrevo sobre a solidão. Saiba que esse lixo só valida o meu fracasso em ser chamado ironicamente de escritor, acho que é a forma mais imbecil de ser chamado. Sou tão sem talento que só tenho algum proveito disso quando alguém tão mais triste que eu se identifica e conversa comigo sobre isso. E eu, com meu ego mais do que ferido, tento parecer ser o melhor do mundo. Sei que já sabe onde cada historinha dessa termina. Minhas costas ainda tão marcadas de unhas, lembro diariamente dessas cicatrizes. Não é amor, é apenas um nada que consegui para passar o tedioso tempo. 
Sei que sabe o quanto a minha vida é boba, que o tempo simplesmente passa, tudo passa e eu fico, todos somem e é bem assim. Dia após dia, a cada aniversário, eu me odeio, cada centímetro meu. Cada vez que arrisco um sorriso amarelado. Odeio esse corpo que não tem mais cheiro, tão pouco desejado, sem carícias, e agora cheirando a vodca, esse corpo que é um poço de pecados, moradas do que não presta, sem as orações que não sei mais como fazer. Meu cansaço é como se eu tivesse feito trabalhos braçais, mas nunca faço porcaria de nada, apenas tento levantar meus passos, mas, não suporto nem erguer a minha alma. 
Como me mata essa minha incapacidade de gritar, de falar o que se deve, devo morrer sozinho em silêncio pela minha covardia de criar um caos. Quero esquecer como todos se esquecem de mim, você é tão jovem, bonita, saudável e feliz, vai esquecer essa pessoa, eu, tão infeliz, só sangro, faço pessoas rirem de mim, pulsos fracos, tão frágil. Sem planos, minhas necessidades sempre é a terceira opção, não sou real, nem devo ser algo bom a ser tocado. Sei que falam desse meu inferno, das minhas pupilas dilatadas das noites em claro, das minhas falsas necessidades de nicotina, desse meu mentiroso discurso de desapego. Sei que sabe da minha infeliz playlist embriagada de músicas que só sei a letra mas não consigo mais sentir um significado. Fingo alegria para não deixar tão claro essa minha vontade imensa de finalizar essa historia aqui e te deixar em paz. Falta coragem de me matar, que como todos nós humanos, se ferir dó muito mais do que quando faz no outro, mas no meu caso, para não te ferir todos os dias, estou alucinado a continuar. 
Sei que continua me encarando, quer saber até onde vou chegar, até quando suporto essa brincadeira de mal gosto, imagino ter te desapontado. Acho que agora consegui o que tanto me pediu. Sempre te falo que entenderei, entendo sobre o seu futuro, sobre ter quarenta anos e uma vida tão promissora à frente, ter um cachorro, ter o seu mundo. E eu, bem, só me vejo contratando garotas de programa e pagando alguns trocados numa pizza, para ser mais fácil de engolir essa amargura de vida, vou viver num apartamento isolado e sozinho, sendo alguém bom durante o dia e infeliz como sempre fui quando ninguém me olha, se é que vou decidir manter isso vivo. Já deve ter esquecido de mim quando falei das músicas, mas esse sou eu frustrado, sem sonhos, isolado ontem, anteontem, há alguns tempos atrás e mais uma vez agora. Isso não vai ser diferente. 
Queria uma terra nova, queria um lugar onde só nós saberíamos existir, queria um refúgio. Queria não ser tão egoísta, minha vodca acabou. Queria estar bêbado, feliz e voando livremente por esses telhados. Eu enfrentaria cada um desses abismos, cada um deles. Mas agora, nem sei mais o que estou fazendo aqui. Apenas tiro os meus olhos do céu. O dia de amanhã será mais cinza do que nunca, devo me sentir um pouco feliz, o que me resta desses trinta e cinco anos me sirva de lição, para não mais sonhar tão alto. Que me lembre o quanto é idiota o meu sorriso, que vou precisar todos os dias olhar para trás e lamentar pelo que passou, por toda droga de vida que vivi e não serviu de nada. Hoje a tristeza não será uma coisa passageira. Pedi tanto para ser um outro cara, alguém diferente. Mas só sei conviver com essa febre que nunca passa, com as dipironas que tomo todos os dias para amenizar o meu medo do desconhecido. Quero morrer em silêncio, que na estrela, não haja sequer uma lágrima para mim, pois não faz parte do meu céu. Esse é o seu pedido, mas agradeço todos os dias por lembrar um dia de mim....❞



- marcosask -




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