terceira


❝...e o céu ficou de repente avermelhado, nuvens carregam toda essa poluição. Chorei a noite toda. Outra verdade, polui não só os mares dessa vez, o mundo está todo avermelhado. Sei que ninguém entende, sei que poucos sabem o motivo da cor, mas meu coração bombeou tudo para fora, mas dessa vez foi demais.

Minha terceira e última insensatez.

- estou apaixonada, estou cansada de saber disso. Não há mais forças para lutar, desisti. Gosto muito, mas já sei que não vou conseguir fazer além do que já fiz, esse menino meche muito comigo, me quebra as pernas. Quando estou com ele, minha cabeça funciona, tenho noção exata do que é necessário para continuar, existe um controle, é tudo o que sei explicar.

- eu não gosto de gostar dele, se pudesse, odiaria, vou tentar... vou tentar. Tenho nojo dele, mas ao mesmo tempo (...). Odeio a forma como sou tratada, pareço uma criança. Odeio o cheiro dele. Odeio a forma como me abraça, Odeio o beijo dele. Odeio os amigos e amigas dele. Odeio a forma como se veste. O Odeio por não conseguir controlar esse ódio. Eu não sei falar para ele. Me tira um sorriso tão facilmente. Me irrita tanto que me faz um mal insuportável, esta acabando com meus dias de paz. Me faz perder o sono, ninguém fez isso. Eu o odeio por tudo isso. Odeio por amar, tanto que só me resta odiar. É tanto ódio que a cada gota de ódio, dez gotas são de (...).

Aqui começa a graça da vida, e sempre é bom que seja assim. As vezes tudo parece estar resolvido, começamos a planejar algo de verdade, nos empolgamos como se tivesse certeza do fluxo, o caminho simplesmente muda, o vento sopra na direção contrária, perco o rumo, por mais uma vez estou sem destino. Agora é sobre mim, sobre tanta amargura. O que existe, o que esconde? Há tanto ódio dentro de mim que perdi a vontade de amar. Queria ouvir as suas metades inteiras, não queria entender nada, não devem ser tão importantes. Sei que você passa um bom batom, uma base leve e vai para a luta, como se nada pudesse machucar, sei que não machuca mais. Eu sei sim. Suas olheiras são grandes, profundas e só revelam o vazio. Mas são pequenas comparadas a ausência do sentido que tento achar e não encontro. Isso te mata demais, sei que dói e você não chora, é forte e admirável. Não quer parar o tempo para acrescentar uma gota de emoção. São tantas guerras que quase me comovi em alguns momentos, tão bem fingidos, profissional. Quase acredito que o medo existe, mas hoje sei que não te ocupa mais. Consegui ver o que há por trás das metáforas, as madrugadas, recheadas dos "meio-amargo" me mostrou que o melhor a se fazer é sumir, não só de você mas também de mim. O barulho interno está alto demais, é muito vazio, fica ecoando e é além dos meus limites. Eu te daria todo o céu, mas a noite escureceu e levou o que não me pertence. Castiguei minha mente insana com o lugar que você não mais quer viver, é irônico saber que agora existe aqui uma falta de tudo. A erupção veio muito rápido, já era esperado, jogou tudo para fora de uma só vez, me corrompeu. Puxo o ar quente, quero morrer. O descontrole não me faz sair do lugar, o relógio não passa mesmo contando os minutos que quero quebrar. Peço para parar as quatro, assim as três começa a hora de ficar triste, como a cura para minha febre foi. Existe um padrão, uma auto-defesa, fico me divertindo com o passar dos ponteiros, o movimento tão retilíneo e invariável. É tão desconsertante que perco até a minha insônia. Sinto falta de algo, não sei mais bem do que se trata, sei que fui deixado, estou esquecido. Não tive ninguém a minha espera ou busca, ninguém foi me encontrar. Me arrancou as azas sabia? Eu só tenho os pés no chão. O vazio ainda tem barulho, mas aos poucos é mais leve. Guerra na minha existência sem você, vontade de gritar a dor do silêncio. A saudade é um abismo fundo, parece não ter um fim, estou em queda livre, me bato em tantos escombros, tão perturbador e distante, a vida assim acaba, mesmo que o buraco seja sem fundo, é um precipício infinito, por mais que pareça assustador, não é tão pior quanto eu sem você. 

Se não existe o medo, não é pela possibilidade de perder, sim por não fazer mais tanta importância. Sabe que sempre desejo ser outra pessoa, nem que seja por pequenos instantes eu tento. Penso em ser o rapaz da padaria, o frentista do posto, o senhor que vende laranjas aqui perto, todos que parecem ter a vida melhor do que a minha, sempre os vejo sorrindo e se divertindo. É algo que não faço há muito tempo, acho que nem sei mais o gosto da alegria, perdi a felicidade e há muito tempo não tento mais encontrar. Não sei se isso me faria deixar de gostar do que é errado, errar já faz parte de mim, prefiro somente desejar ser quem não sou, assim posso saborear de maneira bem distante tudo o que os outros são e continuar sendo o que ninguém é. Assim a saudade me define como será a tristeza daqui para frente, como se eu fosse um velho livro, que ao invés de ser lido, apenas é guardado pela capa. Queria tanto não ser assim, queria sair, mas não sei para onde ir. 

Me apaixonei pelo teu caos, perfume e só. Imaginei esperar por quantas vidas fossem necessárias, mas só tenho uma, infelizmente. Acho que não é só você. Acho que não houve a minha dedicação necessária, tudo foi visto como uma simples obrigação. Talvez seja isso e porque não? Nascer um para o outro... vamos ser francos, como é ruim mendigar amor, sei que sabe exatamente o que estou falando. Fui alimentado com algumas esmolas. Carícias sempre foçadas, os beijos eram substituídos por tantos tapas. Enganamos a nós mesmos, nos ferimos com nossas próprias armas. Pintamos o muro com o nosso sangue, está bastante avermelhado, e agora, sepultamos aqui a nossa história.
Tudo, definitivamente tudo começou com somente um coração disparado, agora termina, com o grito de choro em silêncio preso na garganta. Se você soubesse o quanto busco por alguém para mudar a minha vida do jeito que você mudou, mas de maneira menos dolorida. Não consigo negar, me apaixonei, não me pede desculpas, por favor, isso não vai minimiza mais a raiva que você me faz sentir agora. Era para esse “ódio” ser capaz de me manter longe de você, mas ele só faz com que eu sinta a sua falta. Mesmo depois de tantos desencontros, de te odiar tanto, ainda escrevo sobre as dores de você. Como é decepcionante. É tão mais fácil odiar. É tão mais simples lidar com o ódio do que com o amor, ainda mais quando esse amor é irrelevante para alguém que se chama você.

Falta tanta coisa no mundo, no resto de vida, falta tanto aqui dentro de mim. Brincam com esse antigo brinquedo, as vezes parece ser o preferido, mas no fim, não faz mais sentido. Tratado como um amigo imaginário, um desejo dispensável, um abraço que nada protege, um amigo que não é para sempre, sem sorriso espontâneo, sem vento a soprar. Falta tanta coisa, falta tudo nesse buraco imenso, só existe solidão e tristeza. O vácuo é enorme, no jardim que foi dito como encantado, hoje as flores são secas, espinhos bastante afiados e sonhos sequencialmente inacabados.

Bebi e comi com os olhos vidrados como se você fosse a mais brilhante estrela, prestei tanta atenção no coração que esqueci o comando da minha cabeça, as imagens foram postas a mostra, todas em preto, ao lado das minhas vazias letras. Para onde eu deveria ir além do lado vazio dos espaços, minhas palavras não foram boas o bastante, não tiveram tanto significado, todas tão bem ditadas, escolhidas uma a uma, mas com mínima capacidade de chegar ao seu destino. Disse o seu nome inúmeras vezes, mas sei que nunca os via. Nunca me atendia. Não usarei mais, esqueço da estrela, do sol e do mar, não me enche mais os pulmões, sem o grito dessa vez. Bebo pouco, como bem menos, regresso silenciosamente, é a minha última tática, estou decidido, dessa vez vou sobreviver nos mundos que irei visitar, com dor e muito desamor.

No fim, dei um suspiro bem longo. Um verdadeiro, com vontade, com saudade. Um suspiro imenso, profundo e sempre intenso. É como todo fim, não se tem mais nada o que escrever, vou correr para a cama, fiz assim na tristeza anterior, vou deitar, fechar os olhos e sangrar pela última vez...❞




- marcosask -





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