tudo bem, entendo que precisa ir.


❝...vai e conta uma história, sei que não deve ser toda, mas apenas os detalhes que convêm saber. Sou apenas uma folha que caiu dessa imensa árvore, de raízes profundas e tronco espesso, mesmo nesse mínimo, ainda espero a próxima chuva que correrá águas frias, onde se fez erguer a timidez calada, criada em cada capítulo dessa longa jornada, todas cheias de ti. Aqui está o acúmulo, camada por camada de pele, arrancada com minhas próprias unhas, tirando o sangue em meus poros, que um dia exalaram o cheiro teu.
Assim passará mais um parágrafo longo, aguardando esse bar esvaziar gradativamente, repousando cadeiras por cima das mesas,  me trazendo outro dia de ressaca, quando trago mais uma vez nos bolsos, guardanapos vazios, como se pudesses trazer milagrosamente seu nome, diante dessa noite que só eu consigo ouvir os zumbidos da nossa canção, que não tem um início e nem chega ao fim. Arruma essas estrofes, eu não sei fazer, faz uma limpeza nessas palavras tão bagunçadas nessas meias histórias que infelizmente, tem procurado a calma no local errado, distinto, perdido. Queria ser suficiente, repito isso lavando calmamente as minhas mão, como se estivesse ensaiando mais uma vez a minha fala, ou talvez desculpas do meu dia a dia, que me faz deixar de levantar, molhar esses cactos sobreviventes dessa seca memorável que eu mesmo deixei pontuar.
Posso te ligar, amanhã talvez?
Talvez não seja uma boa ideia, iria apenas combinar os nossos suscetivos remorsos em palavras que só vão machucar, criando comboios de toxinas em nossas veias, confortando a certeza que custa em ser incerta do nosso afastamento, como se alguém conseguisse sobreviver em meio a quem espera o passo do outro.
Sim, vou te ligar e dizer para ler um texto meu, contendo apenas três palavras das milhares que já te falei tentando fingir que estou em 1848 falando que algo escuro poderia ser claro.


Como posso virar esse jogo? Nástienka minha, tudo isso está me aborrecendo, fazendo definhar dia após dia, quando a insônia tem um nome, não nos damos conta do tempo que se passa. Não estou querendo te passar a impressão de um romancista incrédulo do que sente e vive impeto com as mãos nos bolsos esperando sorridente que lhe traga um pequeno palpitar nos lábios. Talvez minhas próximas palavras te salve de ser todo o meu mundo mesmo, que nesse exato momento, não é nada além das minhas próprias confusões. Ainda quero te ouvir cantar, com o coração, cantar alto movendo graciosamente as mãos, acidente por acidente nesses percursos desnudos que nossas almas passeiam quando, por alguma eventualidade do destino, sincronizamos nossos sonos. Posso até supor que isso venha a calhar como uma perseguição, mas tu sempre foi livre, vai e volta quando bem entender, sabe da minha incapacidade, de tudo que há de pior em mim, esse é o meu maior pavor, queria ser escrupuloso segurando teu braço firme contra meu peito e mostrando o que pulsa a seu favor, eu faria.
Eu faria.
Mas, tomando suas palavras, preferi tornar uma dramaturgia nas belas artes, para que um dia vejamos como tudo foi um para o outro. O que nos resta agora? Sempre detestei que me perguntasse esperando uma resposta negativa, não amo assim, te repeti interruptamente, como se isso fosse o bastante para calar qualquer bom leitor de romances baratos. Foi assim que me senti, por mais que tenha ponderado tudo, definitivamente tudo que aconteceu, como algo poderia funcionar diante da liberdade incondicional que tens? Ninguém espera por tanto tempo a tempestade cessar, em um certo momento enfrentamos tudo como se fosse a última jornada a seguir. E eu, só dizia a mim mesmo que ficaria bem.
Alguém me trouxe uma vela, luz na cor amarelada como se fosse a lua, aquela lua. Eu me vejo reintegrado em seus capítulos que eu mesmo escrevi, taxado como um psicopata. Lembra? Eu, só estava num lugar almoçando e torci para te ver, foi apenas o que aconteceu. Mas é mais uma ladainha que não tem o mínimo sentido, só me fere pensar assim de mim, fico tentando entesoar essas páginas manchadas mostrando palavras soltas com frases ditas sem o mínimo sentindo, sabendo que todas elas declinam unicamente ao seu entendimento, as batidas dos meus dedos valem mais que cada pulsar do coração. Mas de que isso lhe vale hoje em dia, seus olhos desvem passar despercebidas por essas letras e não vêem nada além de um sermão oculto a mim mesmo, repetindo mais uma vez o sentimento igual como se fizessem parte de cálculos matemáticos incompreensíveis de um plano graficamente inlegível. Será que o amor segue padrões? Fiz errado então mostrando a única face que conheço, não sou ator amor, estou apenas retribuindo e espero que compreenda como bato palavras por palavra em alta frequência, sintonizados apenas ao meu único norte. Perdi toda e qualquer perspectiva de chegar um dia em que o sol abrirá por nós, isso me custa admitir pois me vejo caído todos os dias com as mãos entreabertas esperando que a história continuasse exatamente onde parou, como um quebra-cabeça se encaixa perfeitamente sem a necessidade de força alguma. Te confesso mais uma vez sentir escorregar entre meus dedos toda capacidade de te ter, pois na minha história de vida, a protagonista sempre foi você, então não há como ter final. Não estou querendo e trazer desconforto algum, mas não veja como indelicadeza, pois o apuro é um detalhe que só você enxerga, mesmo que lhe puxem toda sua luz, sempre terá certeza da minha compreensão, pois me têm mesmo que negue, moldurando na página laranja do rei, como se aceitasse realmente aquele final. Sou apenas uma sombra, considerado como distrações de uma dia qualquer, imaginando subir a ladeira e encontrar um coelho branco que me leve onde existe um mundo. Pode ser um buraco sem fim, tu vem?
Ou talvez devêssemos agarrar a possibilidade de nada disso de fato ser especial, que é comum, nada disso faz parte de desejos concedidos mesmo sabendo que tudo poderia dar errado. Eu tinha medo do depois, e cá estou nele, com um encanto incompreensivo, com um gosto que não sai e revela tudo o que deveria esquecer.
Não é isso que me pediu??
Estou anestesiado sabia? Há momentos em que toda euforia sobe e traz todos os sonhos que faz sobrevivência nessa concha, só que não posso esquecer quando desço tão profundamente ao ponto de acreditar ter inventado doença por doença apenas para justificar toda falta que sinto, como gostaria da sua atenção, tocar em meu suor frio, usar palavras que poderiam melhorar a sensação de desânimo tomado pelo corpo residente do espaço teu, digo-te que existe uma linha tênue entre minha primeira palavra e a tua última, que não existe trocas ou favores, mas somos espécies mudando opiniões o tempo todo errando do mesmo jeito procurando um resultado diferente.
Te vejo como também me vejo sendo delicado mais uma vez com as pessoas, levando sorrisos ditos sinceros aos ouvidos do locutor, como se aquilo não fosse ser desinteressante segundos após, como se pudesse escrever com outras palavas o que me descreve, me humilhando, tirando mais e mais dessa inacabada promessa feita as margens das minhas próprias ambições, como se eu não levasse em consideração qualquer respeito que exista no mundo, afinal de contas, esse é o meu papel de vilão, certo?
Não há planos, nem preciso pestanejar tentando justificar escolhas aleatórias buscando um único resultado. Se não era para ser assim, porque não consegui entender o seu jeito? Eu poderia mudar, ir para qualquer parte do mundo sem prestar atenção em mais nada, guiado apenas pelo brilho que há em seu olhos, pois eu sei que tem, eu sei que tem. Só eu sei que tem e mais ninguém tem a mínima ideia do que estou dizendo.
Estou disposto a me desmanchar, vou tentar enxergar mutuamente suas impecáveis escolhas, acenar uma vez ou outra, apenas para chamar atenção da sua tão espetacular vida, pois em mim guardo apenas uma imensa falta de caráter, maquiada com heroísmo barato de um homem que frustrou a sua tentativa de ser gentil, mas perdeu desesperadamente o caminho.
Deus, desculpa pela tenacidade que me encontro, aqui não há mais virtudes para contar, apenas invejo os de bom coração e poldo qualquer asa que possa me levar além de onde meus pés alcançam. Eu não queria descrever um fim, a página é laranja e você não conseguiu entender, apenas a folha estava sórdida da mais negativa combinação de palavas e fez jus a tudo que um dia pude ser. Por ti, sempre vou mais distante, mesmo quando me falta fôlego, eu estaria repetindo as mesmas palavras de forma diferente. Mas hoje, especialmente hoje, vou tentar manter a frieza que mantêm a rigidez dos meus ossos, como se não houvesse mais possibilidades de reagrupar algum tipo de moralidade aqui. Apenas conto as noites, como se da minha garganta saísse algo compreensivo ao teu coração. Meu medo de sair, é de não encontrar mais o caminho de volta. Sou capaz de perdoar, mas não sei fazer a mim mesmo, pois as memórias me fazem revoltas a quem ousou passear em nossos caminhos e acabamos por deixar se levar. Sinto que te fiz pecar, por mais que não compreenda mais, nossas histórias estão distintas cada vez mais, talvez não consiga suportar calar mais uma vez essa voz, talvez esse seja o caminho do fim, aquele que já conhecíamos e não fizemos a última foto, pois não me arrependo e espero que isso esteja bem claro, pois se era isso que tu escolheu, me fala, pois aquela chave deixada ainda não abriu seu cadeado, o amor que se fez ali, não te torna prisioneira, nunca foi, mas está guardada no lugar que te disse desde o primeiro pôr do sol.
Se mesmo assim, existe uma grande possibilidade de não nos encontrarmos por ai, mas o que foi está guardado em mim...❞



- marcosask -



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