❝...descia uma escadaria correndo, parecia que ia perder um ônibus ou algo do tipo, tinha muita gente lá. Em meio há tantas pessoas, te vi bem de longe, de costas, andando como se tudo estivesse na mais perfeita ordem. Tentei fingir que não vi e busquei imediatamente outro caminho. Me recordo de andar com a cabeça baixa por alguns corredores e não entender o que me deixa ainda assim, sem saber exatamente o que sentir.
Mas, todos os meus sonhos são confusos demais para interpretar.
Quando olhei pra trás, estava você, andando exatamente do mesmo jeito, não parecia que eu tinha passado por tantos corredores como se quisesse me perder, você olhou e aguardou minhas palavras.

- oi, tudo bem? (eu)
- oiii, tudo sim! (você)
- te vi agora, estava com pressa.
- sei.
- tá bom, vou indo pois não posso me atrasar.
- certo, mas sabe que lá não vai te levar pra casa, né?
- tudo bem, vou sempre por ali.

Sem mais palavras segui em frente e me deparei com uma área vazia como se não houvesse ninguém mais no mundo, as luzes piscavam em algum momento, chão sujo e muitas embalagens de balas e papéis cortados na cor azul espalhados no chão, parecia que o local estava abandonado há algum tempo. Estranhamente olhei para minhas mãos, estavam suadas, senti como se estivesse com febre, os batimentos aumentavam e comecei a sentir uma leve sonolência. Dei alguns passos para frente, mas vi o quanto estava sozinho alí, olhei pra trás, vi o caminho de volta, fechei os olhos, respirei fundo e voltei correndo imaginando tentar te ver por apenas alguns segundos.
Para minha surpresa, você ainda estava parada no mesmo lugar, cheguei perto sem palavras, senti o cheiro do seu rosto, passei bem devagar pelo seu pescoço exatamente em baixo da orelha, fechei os olhos para tocar nos seus cabelos, segurar com uma das mãos a sua cabeça e te abraçar.
Ficamos assim por alguns segundos, afastei o bastante para ver teu rosto e te dei um beijo.

- porque você está ainda aqui? (eu)
- sabia que voltaria. (você)
- porque está usando essa roupa escolar?
- não quero te responder.

Fechei os olhos, respirei fundo e perguntei.

- posso ir com você? (eu)
- acho melhor não. (você)
- vem comigo!
- não é uma boa ideia.
- sabe que não vou te pedir mais, não vou ser inconveniente.
- eu sei, mas não quero mais falar.
- tudo bem, vou te deixar ir, não faria diferente.

Me afastei e te deixei seguir, por mais que a minha vontade fosse esquecer tudo que se passou e criar um novo momento a partir de agora, sei o quanto interferi na sua vida e não queria, por mínimo que seja, ir contrário a qualquer decisão que já havia tomado. Virei as costas antes de imaginar que você olharia para trás.
Voltei ao local que antes estava vazio e sujo, mas estranhamente tinha voltado ao seu estado normal. Fiquei na fila e entrei num ônibus, tentei ler o destino mas não consegui. Sentei numa cadeira no meio, tinha um pedaço de papel na cor az amassado no piso. Peguei e apertei forte na mão, procurei uma lixeira mas não havia nada por perto.
Olhei para ele e desamassei, tinha escrito nele, bem no meio apenas reticências, três pontos e nada mais. Olhei para o nada e lembrei "o quanto meus sonhos são difíceis de interpretar".
Hoje, 10/02/20, acordei exatamente às 4:35 da madrugada, deitado no sofá, faz frio pois a porta da varanda está aberta. 
Me pergunto: porque um sonho pode doer tanto?
Por mais que eu busque uma resposta, sei que nunca ia interferir em algo que já estava decidido, por isso me mantenho aqui, sentindo frio e tentando aquecer meu corpo, pois sei que esse confuso sonho vai demorar muito para sair da cabeça.
E assim você me visita mais uma vez, e a cada mil vezes eu registro aqui, sem saber exatamente onde ir ou chegar, não entendo em que universo paralelo minha alma te busca tanto só para te ouvir dizer "não" por mais uma vez...❞



- marcosask -



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