❝...sabe quando, as vezes, no último momento, aquele último segundo, o ar volta ao peito depois de tanto se debater, quando sente que tudo acabou. Por dento tudo ainda está trêmulo, parece que uma energia ainda resta fazendo os órgãos tremer e os ossos congelarem. Passo a mãos no rosto como se enxugasse um suor frio, tentando encontrar algum explicação, algum motivo para toda aquela inquietação e desespero. Tanto tempo já se passou e o medo ainda está acumulado. São montanhas e imensas crateras de abandono. É uma coleção lastimável e suficiente o bastante para enlouquecer qualquer um, é uma reação em cadeia de intensa solidão. Mas o ar voltou, sinto o oxigênio novamente em meus pulmões, penso: por quantas vezes já passei por isso, tanto que nem mais me espanta. Encosto meu corpo no velho e empoeirado sofá, o sono acabou de vez, ascendo um resto de cigarro do dia passado, uma garrafa no chão me faz estender o braço, sinto uma leve dormência em meus dedos, compreendo que todo o meu corpo ainda esta assim. Me mantenho imóvel, imagino um descanso da minha alma enquanto o mundo acontece lá fora. Não demora muito para finalmente o motivo vir a tona, minha consciência briga com o único órgão que ainda insiste em funcionar bem, tão bem que balança minha pele como um animal tentando fugir de uma armadilha impiedosa. Minha consciência grita sem sair uma única palavra da minha boca: "será que agora vai ser diferente?". 
Mas é mais uma pergunta, onde não existe resposta ...❞


- marcosask -


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