❝...ontem, tive um sonho ruim, muito ruim. Não consegui contar a ninguém.
O dia amanheceu, era cedo, um dos meus amigos, aquele que é irmão, sentou na cama, olhou para cima e pediu desculpas a Deus, fez em silêncio uma oração e deixou o tempo passar. 
Aquela garota, cabelos pretos, sorriu com lágrimas e cantou em voz alta "vou chorar sem medo, vou lembrar do tempo de onde eu via o mundo azul. Ela também não se levantou da cama e como de costume, as horas foram passando bem devagar.
Vi meus pais e irmãos, estavam em procissão, usavam preto em um dia de sol, sentia um ar de alívio e dor, as coisas tinham que ser assim, um ar cinza em meio a calmaria, não havia som, não consegui ouvir barulho algum, apenas alguns suspiros de conforto e abraços, como se algo tivesse deixado todos mais unidos, me senti bastante feliz, éramos família, todos sempre juntos em um único propósito. Meu menino não estava bem, bochechas rosadas, olhos fundos e visivelmente perturbado, não havia consolação, apenas chovia em seu interior ao ponto das lágrimas transbordarem incessantemente pelos seus olhos. Queria toca-lo mais uma vez, mais uma única vez, mas não me era mais permitido.
Não existia lógica, enxergava o tempo ir e vim, sentia frio e cada detalhe que me passava pelos olhos, pareciam ser invisíveis aos outros. Estava cansado, corpo febril, mas não conseguia tocar em mim mesmo. A tristeza que sentia, era absurdamente verdadeira, eu estava consciente dos meus passos, sabia de cada palavra que disse e o que fiz, não me sentia prejudicado por nada, estava com as mãos atadas, não tinha como tentar concertar o que tinha ocorrido, só que eu era imperceptível a todos, a dor da outra pessoa, era apenas uma cor.
As páginas estavam sendo passadas, eu só pensava em recriar, ter uma segunda chance de viver tudo o que um dia destruí.
Minha história foi acontecendo suavemente, mas em um certo momento, se tornou aquela roupa que não cabe mais e dá vergonha de doar ao próximo, ela não caberia numa nova história, né verdade? Eventualmente, alguns momentos únicos, tomam o nosso pensamento e regredimos ao que devia pertencer ao esquecimento. Algumas histórias, tem a função de mudar as pessoas que a conhecem, nem que fosse apenas nos próximos instantes. Mas a minha, foi tão degastada, que o tempo pediu o esquecimento.
Finalmente, antes do início do meio dia, você acordou, estava linda, sim, simplesmente linda, de tudo que estava em preto e branco, te via em cores, o seu azul era o mais celeste e lindo possível. Nada havia lhe acontecido, passou as horas do dia normalmente, tinha nas mãos uma mão especial, estava feliz e nada ousaria lhe tirar o sorriso. 
E foi assim, eu estava mais uma vez sozinho em meio a todos no mundo, por mais incompreendido que estivesse, via todos sentindo algo por mim. 
Era meu último momento, eu me disperso de cada um em especial, como se as morte das flores brancas fossem minha única esperança de vida. 
Amar as flores, amar uma única flor, deixar morrer o amor e sentir deixar de sentir medo quando tudo acaba, quando as flores ficam muxas no banco de trás. Não há mais tempos para achar culpados, apenas aceitamos o fim.

Depois de uns dias, você veio me visitar, chovia, não via suas lágrimas, manteve a promessa da tristeza, era somente por um dia e nada mais. 

Te agradeço por me trazer o amor, por me deixar amar...❞


- marcosask -


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