❝...assim me preparo para o final da primavera, olhei calmamente para meu reflexo no espelho, tinha acabado de acordar. Não estava frio, nem quente, o clima era dispensável, incessível, inodoro. A dor tinha criado na manhã, um cemitério de lembranças lapidadas nas pedras que pisei. Eu arriscava sorrir, mas só via meus dentes apenas, não tinha expressão, não havia sentido.
Nada mais entra, não conseguia abrir a porta e deixar o vento passar.
Tenho consciência da minha crueldade, nunca fui seguro de nada, meus olhos ignoram tudo o que é real, meu frio é mais intenso por dentro, eu aprendi a fracassar, fingir estar bem e vender essa mentira da melhor maneira possível.
Me dói falar isso, mas sou sentenciado a viver só, assim não machuco mais ninguém. Queria ter menos espaço, menos oportunidades e desafios, assim talvez eu fosse melhor.
Queria não mais enlouquecer, queria dormir bem só mais uma vez.
As vezes converso com que pensa em morrer, que olha para um tal "futuro" sem esperança de melhoria. Pessoas importantes me falaram sobre o fim, que nem sempre vale a pena continuar, que chorar escondido é mais uma maneira de fugir, de deixar passar o dia após dia. 
Supliquei por perdão, mas hoje não é um dia bom para isso.
Tenho medo de errar antecipadamente, agora, ao agir de maneira inapropriada nesses tais inícios precoces, eu não penso mais em ser alguém, quero ser apenas, nada mais do que sou.
Não sou culpado pelo reflexo dos olhos alheios, nem pelos cheiros. Não posso ser crucificado pelo que dizem que sou e faço, ainda dói o "cheiro nela", ainda dói.

Eu só senti medo, nesse dia senti muito medo.

Era uma terapia ler todos os dias, sempre gostei de textos que pareciam poemas, trechos selecionado a dedo por pessoas que tinham a mesma dor que eu. Buscava nos momentos ruins dos outros, algo que fizesse sentido a minha profunda tristeza. Só escrevo sobre coisas ruis, tudo parece igual, nunca é sobre aceitação, sobre força e perseverança, parece que minha única vontade, é colocar uma corda no pescoço e me jogar de corpo e alma no caos. Parece que sou um homicida tentando explicar os motivos da minha morte. 
Eu escrevo sobre o que me mata, sobre uma morte assistida por tantas pessoas que não fazem a minima ideia de quem sou. Não consigo me definir, não consigo dar uma gargalhada que mostre ao mundo que estou bem, apenas tenho um sorriso sereno, uma certa timidez nos olhos, mãos frias, pés gelados e olhos sempre lacrimejando.
Nunca lágrimas, nunca mais lágrimas.
Me pedem ajuda, sempre estou disposto, mas as vezes preciso de ajuda.
Se eu morresse hoje, ou amanhã, não teria uma história bonita, apenas busca pelo que não tive ou perdi, saudades e muitos espaços vazios em meu tempo.
De um a dez, não quinze, foi de um a dez mesmo, me indicaram um exercício para dormir, contagens, inspiração e expiração, várias pessoas falando que deu certo, que antes de acabar a contagem, já estavam dormindo. Eu só pensava: "porque em mim, nada dá certo?".
Numa noite dessas, pensei numa lista de nomes, quais eu deveria esquecer? Me ajoelhei e pedi mais uma vez por desculpas, porque carrego nas costas tanta culpa? Eu listei após cada nome, os meus piores tombos, mas não consegui palavras para um deles. 
Segurei forte a caneta, escrevi por varias vezes as mesmas palavras que tanto me doí dentro na alma, suplicando por desculpas, pela dor causada.
Eu queria acreditar no amor dos outros, que a paixão que eu não sinto, o outro pode ter, mas eu não sei ser alguém bom quando não gosto o bastante, quando não sei ser o melhor, decepciono, e me decepciono também.
Desisto com o fim da primavera, não aconteceu se quer, um romance lindo, com seus castelos e contos de fadas, eu não tinha mais uma espada nas mãos, não tinha como lutar. Mas sei que ainda existe um sorriso, mesmo que não seja meu, acredito no impossível, sei que ainda pode existir um mundo além das palavras, sei que posso acreditar fielmente na maior mentira de vivências. Sei que posso acreditar que tudo é mentira, a verdade é uma só, que sempre terá alguém sozinho, mesmo que rodeado de pessoas, sempre existirá. Mas basta fazer um pequeno truque: feche os olhos e aperte as suas mãos, sei que em alguns instantes, terá em você o que tenho em mim.
Quem sabe assim, a vontade do "nós" um dia passe, ou aumente de vez...❞

- marcosask -


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