❝...um adeus. foi o que aconteceu, como é difícil imaginar a força que esse gesto tem, a tristeza e melancolia que traz esse simples ato. Não foi como marcar um livro que não se quer mais ler, sim reconhecer que não existirá um aceitável fim. É como abandonar uma sala de cinema, parar uma música antes do fim, fechar a janela e não deixar o vento entrar, engolir as palavras, secar a garganta e se calar, é entrar em silêncio para o mundo deixando o caos na paz. Não receberá uma prometida recompensa ao ler essas palavras, sei que promessas são quebradas como as chaves que são deixadas para trás. Ninguém sabe o que aconteceu, ninguém de fato sabe tudo o que aconteceu, não há participações, a realidade de nós dois, é somente nossa. Aqui, imploro pela morte mesmo sem ter morrido, peço para desaparecer o que existe em mim, que a lua leve o seu olhar, que a sua presença não exista mais em minhas noites e amanhecer. Escrevo um livro imaginário por dia, com tudo que nunca irei te dizer, no fim de cada "eu te amo", choro pela despedida, pela consciência de ser alguém triste no vazio que existe em mim. 
Meu livro, não será mais terminado, esse é o fim.
O que terminou, foi forçado, está errado, o amor devia terminar antes, devia. Ele foi arrancado, foi torturado pelos dias e noites que se passaram, está sendo remexido por dentro e nunca será exposto novamente. Ainda sinto as pontadas, a dor, a lembrança que é ver os movimentos das mãos quando os olhos estavam abertos. Minha pele dói, mancha o meu rosto, cada silêncio queima, peço piedade aos céus, sei que criei a minha própria prisão. Aceito de bom grado a minha sentença.
Sou o desconhecido em meio aos que a conhece, sou aquele que apanha e faz sentir dor, sou involuntário, responsável por ter uma inocência consciência de culpa. Sinto-me corrupto, um improvisador, mentiroso de palavras falsas e vazias. Sou apaixonado pela despedida, de quem se despede, pela involuntária direção oposta.
Abri meus braços, é triste se despedir e esperar que a tristeza traga algo feliz, que cure as mágoas que causei, que traga um pouco de alegria em meu tão dolorido coração. Agora é um momento de esforço, estou por mais uma vez abandonando minha tão desejada escolha de vida, tentando desatar os nós do meu all star azul, perdendo o caminho de cor laranja celestial.
As vezes ouço falar o seu nome, mas é como se não a conhecesse. Não é mais amor, não é mais minha, não é mais princesa. O que era plural, está no singular, somos hiatos, perdemos a concordância, somos um endereço sem número. A noção de ser a última vez, ressoa pelo quarto, onde os lençóis azuis mudam de cor, a voz dos vizinhos não é mais a mesma. Queria entrar, por mais uma última vez, ter a lembrança da minha primeira sensação, de olhar para o seu cantinho de mar, pedaço do céu, ter noção de como sonhei com aquilo tudo sem ter, queria poder estar ali, sabendo que seria a última vez.
Queria abrir o seu guarda roupas e saber que ali ainda existia um pouco de mim, de saber que no banheiro só tinha água fria, de sentar no banco, olhar envergonhado e te esperar, só por mais uma vez, te esperar. Observar cada detalhe, cada livro fora do lugar, sentir calor ao invés do frio, sentir, pela ultima vez, sentir o seu leve caminhar.
Queria tirar da lembrança o som da sua respiração, da sua música preferida, o som de suas gargalhadas. É triste, ainda dói a lembrança dos olhos fechados junto aos seus abraços, quando meus lábios tocavam levemente o seu rosto, quando tocava em mim e desejava não errar por mais uma vez, queria te beijar por mais uma última vez, sentir o seu gosto, soluçar a dor, aceitar que nesse beijo, o fim finalmente chegou, e por mais inacreditável que seja, essa é a última vez, saber que restou apenas a coleção de tantos instantes indefinidos, inconsequentes, preciosos e sagrado.
Precisava apenas despedir-se, segurar o abraço até não aguentar mais, aceitar o fim, saber guardar o que ficou, cuidar do que ainda trás lembranças.
Cuidar, é a minha única maneira de provar que estou deixando de te amar, a despedida já existiu desde a primeira vez que nos vemos, desde a primeira palavra minha e sua. Sei que invento uma despedida, sei que sou quem mais se importa, que ainda diz que existe amor, sou quem ama, quem ainda fala de tristeza, quem espera e guarda.
Sou quem olha para o céu, mas agora, ao invés de estender as mão, apenas me disperso de você, me disperso do meu amor para o mundo que não vou mais atravessar...❞



- com muita tristeza:


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