Eu era ótima em cair, e dois dias depois levantar como se a vida fosse passageira demais pra mim.

Quando te vi atravessando a rua cheio de malas, cheio de tralhas, cheio de falhas, quis pedir pra que me enterrasse em qualquer buraco, pra que a dor que me tomava sumisse do meu ser. Eu quis pedir pra que me enterrasse em seu peito macio, eu quis pedir que ficasse.

Depois, amanheceu outros dias, outras épocas, outras árvores se formaram no mundo, dessas coisas que nascem na nossa história, de plantas miúdas que podem ser destruídas em qualquer vendaval à árvores gigantescas que tem raízes além do que podemos imaginar. Eu fui a terra, em todas essas plantações, em todas essas esquinas cheias de verde. Eu vi muita plantinha morrer, eu vi muita árvore nascer, meu bem. Mas a saudade foi o que mais impregnou-se em mim nesses tempos. Saudade de toda a bagunça que você arrumou quando saiu pela porta à fora, e atravessou a rua. Saudade de qualquer fragmento de cheiro seu, de qualquer blusa sua em meu corpo, de qualquer tentativa de abraço no dia, de qualquer sorriso que um dia em meu rosto se abriu. Aqueles sorrisos, aquelas blusas, aqueles cheiros. Aquelas paredes que a gente ergueu, aquelas cores de vidas que a gente escolheu, e a frase na parede do quarto. 

Antes que eu pudesse escolher, minha alma casou-se com a sua.

Aquela frase que eu mandei pintar, com cores tristes demais, mortas demais, vividas demais. Cores que um dia amaram com todo o pulso que os poetas amam. Com toda a vida que a gente desaprende a viver.

O triste de tudo, são essas coisas pequenas que tem um espaço tão grande por dentro, essas coisas que a gente manda pintar, rasga, esconde, doa pra alguém, empresta pra uma amiga, varre pra de baixo do tapete. Essas coisas que por mais que a gente tente se livrar, pensando, enganosamente que vão ajudar a esquecer os caminhos, na verdade, não ajudam à nada, só a sentir ainda mais saudade do que um dia estava vivo dentro de nós. Eu olhei para a parede limpa, de uma cor tão morta quanto nosso amor, e quis a frase exposta na parede outra vez, quis a sua voz pela casa outra vez, quis à mim, em todos esses anos, eu quis tanto ser o que fui com você. E percebi, meu bem, que toda essa saudade, é do quanto a gente era feliz e não sabia, e que essas pequenas coisas, por mais escondidas que estejam, ainda moram dentro da gente. 

“Eu era ótima em cair, e dois dias depois levantar como se a vida fosse passageira demais pra mim, até o dia em que você bateu à porta.” 

Bruna Barbosa - 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

não importa o tempo

votos