❝...quando penso como somos compatíveis, lembro também no momento em que éramos dois estranhos e acabávamos de nos conhecer, falamos da vida de uns dias atrás, nada sobre as alegrias da infância, nem a inocência que existia em andar pelo mato e conhecer coisas simples que tinham um significado tão importante ao ponto de não abrir mão daquilo por motivo algum. Enquanto eu falava de trens, você trocava mamonas por algodão doce, sim, claro que cada qual em uma época. Um apelido era algo engraçado e divertido demais, a simplicidade tomava conta e o mundo girava com um tempo diferente de hoje em dia, em um certo momento, nos conhecemos, te mostrei algumas cicatrizes e senti um nervosismo vindo de suas mãos, estavam meio frias mesmo em um dia de calor. 
Somente hoje percebo seus traços invisíveis, leio seu movimento criando palavras no silêncio em que você anda até o banheiro, como se pudesse controlar o que se passa na cabeça. Falamos sobre alguns muros e como poderíamos subir em cada um deles, mas em minha ignorância, sempre vejo janelas e qualquer barreira, penso que tudo tendencia cair com o passar do tempo. Foi quando você sumiu e me lembrei do timbre da sua voz, por mais que meus ouvidos estivessem atentos a cada detalhe, sentia que a distância orbitava mundos em minha cabeça como se tudo girasse somente em torno de você, senti saudade, mesmo há alguns metros de distância.
Acho que o universo faz bem o seu trabalho, não fazendo com que a rotina faça tudo parecer igual, as vezes bagunça, as vezes deixa tudo muito bem organizado, mas nada tão sincronizado ao ponto de nunca permitir a colisão dos nossos planetas, o meu vênus, e o seu?
Nossas estrelas são muito diferentes em cores, tamanhos e distâncias, mas nosso destino quebra as regras de vez em quando, a distância recria palavras e nosso suor transforma um mínimo necessário em um enumerado de momentos percorrido pelas minhas mãos, gravados em meus olhos tão confusos, as perguntas que repito o tempo inteiro na cabeça e nunca mais deixei sair. O que faço com você?
Somos observados por nós dois o tempo inteiro, capturando nos movimentos do outro, um reconhecimento mútuo, mesmo sabendo que em mim a fantasia faz moradia criando sonhos cada vez mais indecifráveis, sei também que dançamos mesmo sem um compasso sincronizado, talvez tudo tenha que ser exatamente assim, observamos de longe certos acontecimentos buscando referências para novas direções, mesmo sabendo o quanto somo fadados a buscar explicações até na ordem das nossas iniciais nas letras do alfabeto, parece até ser simples quando me pego pensando em quanto tempo os nossos olhos se chocam e imagino no desviar do meu olhar, quanto tempo mais você continua me observando, como se o seu sumiço da minha visão, fosse uma desculpa para sorrir envergonhado com a metade da boca enquanto imagino ter forças para quebrar qualquer barreira entre nós. 
Não quero mais fugir, mas também tenho medo de te ver chegar perto demais das minhas confusões, mesmo que aceite o fato que não me acho bonito, minha pele, olhos, boca ou qualquer coisa em mim. Decoro em meus sonhos acordado com os olhos arredondados e lacrimejando, uma realidade que insiste em não acreditar no momento em que estamos vivendo, mesmo com o medo de uma hora acordar e perceber que tudo não passou de um devaneio, quero ter tudo isso aqui.
Somos pares, completando nosso mundo pois necessitamos da atenção um do outro, com as mãos exalando suor, por mais que não se toquem, elas sempre se buscam, até quando rompemos o silêncio incendiando nossos corpos, sempre estou de olhos abertos vendo como é lindo as sombras em seu corpo, por mais que você não deixe, procuro decifrar cada sombra e seus movimentos, alimentando uma fome platônica em roubar todos os seus detalhes para mim.
Assim sou eu, uma criança carente de atenção, mas sei que apesar de tudo o que não compreendo no mundo, me sinto seguro em ter na consciência o quanto somos dois estranhos que se conhecem demais, ao ponto de unir cores e gostos, buscando similaridades até quando um cometa passa por meus olhos e não pelos seus. Em seus ombros tensos, músculos doloridos e rosto lindamente desenhado, é assim que te descrevo, esquivando minhas falas envergonhadas, com medo que um dia a boca fale aos olhos um "até logo" que vai comer meu tempo até a hora de te vem mais uma vez...❞


- marcosask -


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

the confession

não importa o tempo